ENCONTRO ANUAL AGN 2019

Centro Cultural de Belém
26 Novembro 2019


A AGN realizou no dia 26 de novembro de 2019, no CCB, em Lisboa, o 8º Encontro Anual desta Associação, com o tema “Gás Natural – Energia de hoje e do futuro”.

Tendo presente as políticas de transição energética e descarbonização que apontam para a diminuição da intensidade de utilização do gás natural como combustível essencial para a economia, foi destacada a importância do gás natural em diversas áreas para se alcançar com sucesso as metas da descarbonização.

O Presidente da AGN, Eng. Pedro Ricardo, abriu o Encontro salientando a importância do conhecimento e debate público sobre a relevância do GN como fonte de energia do presente e do futuro que proporciona competitividade, segurança energética e conforto aos cidadãos. Destacou igualmente a relevância dos três temas dos painéis, o gás renovável, a mobilidade e a cibersegurança. Numa breve abordagem sobre o contexto mundial e nacional, referiu que para a descarbonização da economia mundial o gás natural e as energias renováveis são as alternativas económicas adequadas à substituição do carvão, prevendo-se o que o GN manterá uma quota de ¼ entre as fontes de energia primárias das próximas décadas, embora com um consumo 20% inferior ao atual. Em Portugal, destacou a capacidade de resposta do sistema gasista à grande incerteza resultante da inexistência de alternativas ao armazenamento de eletricidade, em que “o consumo do gás anda ao sabor do vento e também da chuva”. Como exemplo de competitividade e eficiência, chamou a atenção para a importância do Terminal de Sines, cuja utilização ronda os 100%.

Maria Cristina Portugal, Presidente da ERSE referiu que o panorama do setor dependerá do caminho adotado para a descarbonização. A “opção por apenas eletricidade significa uma sociedade, um sistema de energia e redes totalmente eletrificados. Por outro lado, podemos aproveitar a eletricidade e o armazenamento de gás, juntando a eletrificação com soluções de Power-to-Gas-Power, para armazenar a eletricidade através do gás, mas confiando nas redes elétricas. Ou ainda, podemos desenvolver um sistema integrado – aproveitando a eletricidade e os gases “verdes” – permitindo uma eletrificação complementada pelo uso de gás verde e uso contínuo da infraestrutura de gás e de eletricidade.”

O Presidente do Mibgás, Raúl Yunta, apresentou a evolução do Mercado Ibérico do Gás e um ponto de situação sobre a execução do road map para um maior aprofundamento e integração deste importante hub.

Na sua intervenção, o Diretor da GGND, Nuno Nascimento, fez uma introdução ao estudo da consultora Poyry (AFRY) ““Zero Carbon Gases – The key to Portuguese Decarbonisation” destacando a importância que é dada, ao nível da União Europeia, à descarbonização da economia e à forma como a participação do setor de gás é imperativa para uma transição energética sustentável a nível ambiental, social e económico. Nuno Nascimento referiu ainda que a Comissão Europeia está confiante de que a transição energética será alcançada com a interligação entre os setores de eletricidade e de gás – o designado sector coupling, e que o setor de gás poderá ser fortemente descarbonizado, através da produção e distribuição de gases de origem renovável, como o hidrogénio e o biometano, utilizando o potencial das infraestruturas de armazenamento, transporte e distribuição de gás natural existentes.
Para que essa evolução aconteça em Portugal será necessário um enquadramento regulatório adequado que estimule a produção destes gases e possibilite a adequação das infraestruturas de gás e o investimento em tecnologias de power-to-gas.

Esta perspetiva foi aprofundada na apresentação do referido estudo por Richard Sarsfield-Hall, da consultora AFRY, estudo solicitado pela AGN e que contou com a colaboração da Galp Gás Natural Distribuição e da REN/Portgás.
Richard Sarsfield-Hall salientou que a descarbonização do sistema energético português até 2050 é possível e que esse caminho deverá ser feito recorrendo aos “zero carbon gases”, e consequente utilização das infraestruturas de gás, em vez do caminho da eletrificação total, que acarretaria um sobrecusto de 9 mil milhões de euros para a economia portuguesa.
Em consequência, a conceituada empresa de consultoria considerou da maior importância que o “Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050”, reflita os evidentes benefícios que resultam da utilização da rede de gás para desenvolvimento de gases, como o biometano e o hidrogénio. É ainda destacado que Portugal deve tirar partido das suas vantajosas condições endógenas, dado que o seu elevado potencial eólico e solar permitem produção à larga-escala de hidrogénio verde e a um menor custo, comparativamente com os restantes países europeus.
Outro eixo de atuação essencial na descarbonização é a utilização do Gás Natural no setor da mobilidade sustentável, com o desenvolvimento de tecnologias inovadoras no uso de GNL no setor dos transportes pesados de mercadorias, mas também nos transportes marítimos. O mercado reconhece o potencial e a valia deste setor e as suas respostas competitivas.

Hugo Luzía, da Volvo Auto-Sueco Portugal revelou o novo modelo de transporte movido a gás natural liquefeito bem como as inovações tecnológicas que a nível do motor garantem a eficiência e a competitividade destes modelos comparados com os que até agora utilizavam outros combustíveis.

A Molgás, representada por Carlota Villar, apresentou a atividade da empresa de transporte de gás natural liquefeito e os planos de desenvolvimento no que se refere ao abastecimento de transportes marítimos e referiu o grande potencial deste contributo para as metas de descarbonização na área da mobilidade.

A crescente tendência de digitalização das sociedades e as suas múltiplas implicações inscreveram a cibersegurança como um tema incontornável da agenda das organizações. Este tema foi abordado no painel composto por Lino Santos, Coordenador do Centro Nacional de Cibersegurança, autoridade nacional especialista nesta matéria; Luís Morais, Diretor de Segurança de Informação da Galp e Paulo Moniz, Diretor Segurança de Informação, no qual foi salientado a importância da mobilização interna das organizações para o objetivo da cibersegurança.

O Encontro contou ainda com a participação da ENSE - Entidade Nacional para o Setor Energético para apresentação das suas competências alargadas ao setor gasista.

No encerramento, o Secretário de Estado Adjunto e da Energia, João Galamba, destacou que a complexidade do futuro da energia a dimensão do trabalho exigido para criar o adequado enquadramento técnico, económico e regulatório que permita acomodar e otimizar as diferentes apostas em curso e a realizar. Neste âmbito, destacou a descarbonização da rede de gás natural, desenvolvendo a regulamentação técnica e económica necessárias para dar início à injeção de gases renováveis na rede de gás natural; a transposição para o ordenamento jurídico nacional da nova Diretiva das Renováveis, RED II; e o alinhamento de prioridades dos instrumentos financeiros com prioridades estratégicas do PNEC, concentrando recursos para aumentar a eficácia e cumprimento de metas e objetivos da política energética, nomeadamente a elegibilidade de projetos para a produção de gases renováveis.

O 8º Encontro AGN contou com 230 participantes do sector gasista e das diferentes áreas da economia ligadas à energia.