Será possível um modelo de desenvolvimento sustentável, um green growth? Se sim, que mudanças se impõem?
Considerando o longo período de tempo que vai desde o início da Revolução Industrial (1750) até hoje, mais de metade das emissões de gases com efeito de estufa ocorreram nos últimos 30 anos (1). Desde 1990, todos os anos as emissões bateram recordes. Assim, não será de estranhar que o ano mais quente de sempre, desde que há registos (1880), tenha sido 2020 (2), e que a temperatura já esteja 1ºC acima dos níveis pré-industriais (3).
Cumprir o Acordo de Paris sobre o clima e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 das Nações Unidas obriga a uma redução de 45% das emissões globais, até 2030. Neste momento, essa meta parece impossível de alcançar, dada a tendência de crescimento progressivo das emissões ao longo das últimas décadas, as características do nosso modelo de desenvolvimento e o facto da população e do PIB mundiais continuarem a crescer a bom ritmo. É verdade que em 2020, com o mundo confinado, as emissões globais provenientes do consumo de energia (75% do total (4) caíram 5,8% (5), porém este já voltou a bater recordes recentemente (6). Cumprir o Acordo de Paris implica uma redução anual das emissões de 7,6% (7) até 2030, isto é, uma redução anual superior à de 2020 – porém, sem a economia e as nossas vidas confinadas!
Na União Europeia (UE), o compromisso é reduzir as emissões em 55%, até 2030 (face a 1990). Por isso, o Pacto Ecológico Europeu foi adotado como o principal motor de crescimento e emprego para a década (8), e a verba de 2,4 biliões de euros do Next Generation EU 2021-2026 (9) e do Quadro Financeiro Plurianual 2021-2027 (10) terá uma fatia enorme afeta à descarbonização. Só a descarbonização de Portugal, segundo o Ministro do Ambiente (11), implica um investimento superior a um bilião de euros, 85% do qual proveniente das empresas e das famílias. E o que parece neste momento pode ainda parecer uma realidade distante, rapidamente a Lei Europeia do Clima (prestes a entrar em vigor (12) tornará uma realidade próxima.
Foi neste contexto que o BCSD Portugal convidou a consultora McKinsey & Company para uma adaptação do relatório “Net Zero Europe” (13), que esta publicou em dezembro de 2020, para Portugal. Pretendia-se, por um lado, compreender melhor as atuais exigências da descarbonização do país, num contexto em que o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 (14) e o Plano Nacional Energia e Clima 2030 (15) foram construídos há cerca de dois anos e, por outro lado, clarificar as implicações da descarbonização ao nível do crescimento económico. Ou seja, será possível um modelo de desenvolvimento sustentável, um green growth? Se sim, que mudanças se impõem? Quais são as inovações necessárias, os investimentos prioritários e os clusters, tecnologias e soluções com maior potencial?
Em linhas muito gerais, o estudo “Net Zero Portugal – Caminhos de Portugal para a descarbonização” (16) confirma e releva o seguinte:
A transição para a neutralidade carbónica não só é um dever de Portugal, como constitui uma oportunidade rara para melhorar a nossa resiliência e competitividade internacional. Assim haja empenho, inteligência, criatividade e colaboração entre os diversos setores da sociedade portuguesa.
Fonte: Artigo de João Wengorovius Menese - Capital Verde